Sunday, August 07, 2005

Pequeno Universo

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PEQUENO UNIVERSO

O universo infinito por definição, nos abriga cada vez mais grãos. Quantas vezes aquela complexa bagagem existencial que carregamos não cabe numa canção? Pequeno Universo, décimo primeiro disco da carreira do Nenhum de Nós equaciona paradoxos e resulta num trabalho bem resolvido. Arranjos sofisticados convivem com a simplicidade. Poesia rima com ousadia. Afinação casa com repertório. Parcerias desbravam caminhos já abertos por quem sabe que pop rock também se faz com chimarrão, praia, arranha-céu, clube da esquina, pub londrino e Piazzolla.

Depois do sucesso da turnê do CD e DVD Acústico Ao Vivo Dois, gravado no Theatro São Pedro, no final de 2002, os integrantes dedicaram-se a projetos paralelos, com linguagens até distintas do que realizam coletivamente. O clima da produção de Pequeno Universo não poderia ser mais criativo. Longe do estúdio desde de Histórias Reais, Seres Imaginários (2001), o Nenhum de Nós mostra na faixa interativa “Confiança” o espírito que mantém músicos, parceiros e amigos juntos por tanto tempo.

Pequeno Universo traz 13 faixas, duas versões e uma dobradinha com a escritora Martha Medeiros, que assina uma composição musical pela primeira vez: “Feedback”. A ótica feminina, aliás, sempre pontuou a carreira do Nenhum de Nós. Do hit “Camila” às personagens presentes na discografia como Jennifer e seu sorriso. E no caso deste novo álbum, outra figura entra em cena. “Raquel”, de autoria do uruguaio Jorge Drexler é uma bela homenagem a um dos principais compositores latino-americanos contemporâneos. Ao Nenhum de Nós nunca foi “extraño” ter proximidade além da geográfica, a exemplo de menções anteriores a nomes como Charly García e Fito Paez.

Outra versão de Pequeno Universo segue na contramão. Enquanto o pop rock foi base para releituras de alguns grupos de samba nos anos 90, “Eu e Você Sempre”, do sambista Jorge Aragão surpreende em novo formato. A música ganhou texturas eletrônicas, notas psicodélicas e o vocal melancólico de Thedy Corrêa a denunciar sua condição “meio passional por dentro”.

Da capacidade de filtrar o que houve de melhor na década de 80, como a pegada inicial de “Cada Lugar” remetendo ao cultuado Blondie, ou as notas beatlemaníacas de “Dança do Tempo” e, ainda, o folk que vai de Bob Dylan a R.E.M presente em “Divididos”, há a personalidade inconfundível do Nenhum de Nós, um quinteto brasileiro que sempre olhou para além das fronteiras, do sucesso no rádio ou na TV. O jeito de compor, arranjar e harmonizar o repertório é mais do que porto seguro, é Porto Alegre. “Certas coisas nunca mudam. Alguém que vai embora. Alguém que está para chegar. Aí começa a diferença. Encontrar o que é novo. Sem esquecer de olhar pra trás”.

Em Pequeno Universo, o Nenhum de Nós reafirma a competência de falar de amor sem usar o verbo, banalizar o sujeito. Seja na ruptura de “Monstrinhos” ou na otimista “Sempre Sim”. Os pares e ímpares estão em todo projeto gráfico do designer argentino Alejandro Rós, responsável pela visualidade do CD e DVD “Naturaleza Sangre”, de Fito Paez. Beija-flor, foca, cavalo-marinho, borboleta, entre outros surgem pares, ímpares no livreto em tamanho reduzido de 6cm x 6cm, alheio também às convenções. Sacha Amback, que trabalhou com Adriana Calcanhoto, Moska e Nenhum de Nós é o produtor do álbum e captou com maestria momentos únicos de um novo ciclo de idéias da banda. Idéias para se espalhar aos quatro cantos do mundo ou mesmo ao nosso Pequeno Universo.

Ludmila Azevedo (jornalista e diretora do Programa Agenda da Rede Minas de Televisão).

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