Wednesday, August 26, 2009

Para Fabinho

Minha vela.
Assim é Fabinho na minha vida, minha doce vela, me iluminou desde pequeno. No cinema, no clube, nas festas. Foi minha vela em meus namoros permitidos ou proibidos, uma vela sem julgamentos. Me ensinou a pagar as contas da casa sem que nosso pai soubesse, era só subornar “dona” Celinha com um batom da perfumaria Lourdes. Começou a trabalhar primeiro que eu, já tinha a responsabilidade de ajudar desde muito novo.
Era cabeludo, por minha influencia claro, lindo! Fizemos nossa primeira carteira de identidade juntos e Prata Neto, desmereceu suas lindas madeixas, ele olhou pra mim firme, com vontade de socar o fascista, mas deixou pra lá, pois eu precisava do documento para começar minha nova viagem de vida.
Fui estudar nos EUA, somente ele e mamãe me escreviam cartas, eram afeitos as letras. Ele ganhou ainda pequeno o segundo lugar de um concurso de redação da TV Alterosa: dois macacos tocando tambor! Desenhava também, há poucos meses enviou minha caricatura por email.Deliciosa.
Foi letrista e gaitista da banda Ingazeira vencedora de alguns festivais do Colégio Estadual Central, era roqueiro, virou comunista, leu O Capital inteirinho, começou a gostar de música de protesto. Voltei dos Estados Unidos gostando de James Taylor e ele de Vandré, depois de Sergio Sampaio. Não me recriminou, eu estava in Love. E ele silenciosamente aceitou meu temporário mau gosto.
Tivemos amigos em comum, Chumbão, Rosangela, Roberto. Éramos cúmplices na troca escondida de cigarros em nossos quartos tão próximos. De uma certa maneira, sempre fomos cúmplices, para falar bem ou mal dos outros, para beber diversas cervejas ou ouvir uma boa música. Como bom marxista, ele e Ronaldo tinham conversas intermináveis de como viver em um mundo mais justo. Não me interessando mais pelo comunismo, ficava fazendo tira-gostos e ele especialmente, sempre me falava textualmente o quanto me amava.
Falamos “eu te amo” um para o outro, poucos dias antes dele ir embora.
Agora não tenho o Fabinho para conversar no MSN de madrugada, mas sei que ele está tão feliz junto com papai e mamãe, lá ele poderá tomar um remédio com “seu” Azevedo e comer muitas cebolas empanadas com “dona” Celinha. Acho do fundo do meu coração que eles estão felizes. E que tenham conquistado a paz que nem sempre aqui conquistamos. Aproveito, já que estamos nesta cerimônia junto com de nossos pais, para dizer que ficaremos bem, e que vocês tem netos lindos, corajosos e delicadamente audazes como vocês. Meu beijo enorme para o Fabinho, espero um dia ser uma pessoa mais generosa para poder tomar uma ou várias com você, já que, imagino em qualquer outro lugar a gente não precisa de fígado, só do nosso coração grandão.

Ficam duas músicas de Sergio Sampaio que acabei nunca te enviando:

Sinceramente
Não há nada mais bonitoDo que ser independenteE poder se conquistarSair, chegarAssim tão simplesmenteNão há nada mais tranqüiloDo que ser o que se senteE poder amarPerder, chorarDepois ganhar assim tão livrementeNão há nada mais sozinhoDo que ser inteligenteE poder cantarolarErrar, desafinarAssim sinceramenteSinceramente


Pobre meu paiQuatro punhos espalhados no arOito olhos vigiando o quintalE o meu coração de vidroSe quebrouDoido meu paiSete bocas mastigando o jantarSete loucos entre o bem e o malE o meu coração de vidroNão parou de andarPobre meu paiA marca no meu rostoÉ do seu beijo fatalO que eu levo no bolsoVocê não sabe maisE eu posso dormir tranqüiloAmanhã, quem sabe?Hoje, meu paiNão é uma questão de ordem ou de moralEu sei que posso até brincarO meu carnavalMas meu coração é outroSimples, meu paiFaça um samba enquanto o bicho não vemSaia um pouco, ligue o rádio, meu bemNão ligue, que a morte é certaNão chore, que a morte é certaNão brigue, que a morte é certa